Na semana de 2 a 6 de maio, a diretora pedagógica da Escola AB Sabin, Silvia Adrião, e a orientadora da Educação Infantil do Colégio Albert Sabin, Andrea Ferreira Silvia, estiveram em Reggio Emilia, na Itália, para participarem do Curso de Aprofundamento na Abordagem de Reggio Emilia para a Educação Infantil. Foi uma oportunidade de imersão nessa pedagogia, que foi premiada pela Revista Americana Newsweek como a melhor proposta de Educação Infantil do mundo. Após esse reconhecimento, o sistema educacional de Reggio se difundiu e chamou a atenção de diversos pesquisadores.
Durante anos, a Harvard University – Project Zero, as escolas de Reggio Emilia e a Reggio Children mantêm colaboração em pesquisas e produção de materiais de profundo valor científico e pedagógico, que já foram traduzidos para diversas línguas, consolidando Reggio Emilia como referência na promoção das melhores práticas para a aprendizagem colaborativa e projetual na infância.
O curso foi realizado no Centro Internacional Loris Malaguzzi, espaço que recebe educadores e pesquisadores do mundo todo interessados na defesa e promoção dos direitos das crianças e suas potencialidades. O Centro Internacional também foi criado para valorizar e compartilhar a experiência educativa da cidade. Além das conferências com renomados pedagogos, pedagogas e atelieristas, o curso contou com atividades práticas nos ateliês e visita às escolas referência.
Mas, afinal, o que é a abordagem de Reggio Emilia?
Para entender melhor a pedagogia de Reggio, é importante conhecer o contexto histórico gerador de tamanha transformação. Após a Segunda Guerra Mundial, a região estava devastada, e as crianças, sem escola. As mães e mulheres da cidade foram protagonistas na organização de um novo modelo educativo que fosse capaz de formar crianças com um olhar diferente para mundo, posto que a educação que receberam culminou na guerra, no genocídio e na perseguição devido à intolerância.
A educação para a paz, coletividade e respeito ao outro e ao mundo já eram alguns dos princípios dessa escola que surgia e que eram novidade para o seu tempo.
Loris Malaguzzi (1999), principal filósofo que se uniu à experiência educativa da cidade, sistematizou um princípio chamado de Pedagogia da Escuta e realizou a organização metodológica do currículo por meio da Abordagem Projetual – ou Pedagogia de Projetos. A essência é uma concepção de criança potente, capaz de criar, aprender e se expressar por meio das mais diferentes linguagens. A criança é vista como um sujeito de direitos, e a escola não mais como um preparo para a vida, mas a vida acontecendo em sua plenitude.
Com o passar dos anos, Reggio Emilia se tornou referência mundial e berço inspirador para novas formas de se conceber a educação para as infâncias. A Ética, visão de um mundo mais justo, sustentável e respeitoso, e a Estética, curadoria e encantamento pelos ambientes e propostas, são também bases dessa pedagogia, que nunca perde de vista a criança como principal sujeito no processo de ensinar e aprender.
“Tive o privilégio de visitar centros de educação para a primeira infância em muitos países, e aprendi muito com o que observei nesses diversos contextos… cada um desses ambientes educacionais tem de se esforçar para encontrar seu próprio ponto confortável de repouso entre os desejos dos indivíduos e as necessidades do grupo; a formação de habilidades e o cultivo da criatividade; o respeito pela família e o envolvimento em uma comunidade mais ampla; a atenção ao crescimento cognitivo e a preocupação com questões emocionais… Existem muitas formas de mediar essas tensões e esses impulsos humanos. Ao meu ver, nenhum lugar do mundo contemporâneo conseguiu ter tamanho sucesso como as escolas de Reggio Emilia.” Howard Gardner
Entre as práticas da abordagem de Reggio Emilia, estão: trabalho colaborativo; documentação/registro dos fazeres e das descobertas das crianças; escolha de materiais ricos e diversificados; e propostas de trabalho que enxerguem a complexidade que é o aprender e não simplifiquem os saberes.
Projetar, pesquisar, debater, construir, reconstruir, experimentar, partilhar, registrar, devolver, questionar… são verbos que dão pistas de como é o cotidiano escolar dos pequenos, mediado pelos educadores.
A aprendizagem deve ser concebida como a construção de um grande mosaico, que se integra e se compõe gerando novos conhecimentos. É preciso nutrir a infância de vasto repertório cultural, estético e científico, pois as crianças precisam de mais! Propostas “monossignificantes” não são suficientes, elas precisam construir relações e se colocarem em diálogo. O exercício é ampliar ao máximo o olhar e propor situações de alargamento criativo e mental. (Trechos das reflexões propostas por Madalena Tedeschi e Jovanka Rivi durante as conferências.)
É importante destacar que, quando se trata de educação, sempre há muito o que aprender. Essa é uma prática contínua das nossas escolas: a busca pela excelência, pela permanente formação e qualificação do trabalho. E é assim, “nutrindo-se” em diversas fontes, que a singularidade do nosso projeto educativo ganha ainda mais força. A beleza da troca, da partilha de ideias e opiniões é princípio para o nosso “fazer escola”. Em Reggio Emilia, nada se copia, pois cada contexto é muito forte, mas a inspiração é inevitável! Deixe-se inspirar também por essa experiência!
“Tudo que não encontramos quando somos pequenos, não encontraremos mais. Por isso, é muito importante favorecer o máximo de encontros na infância.” Stefano Sturloni – Atelierista – Reggio Emilia