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Argila ou massinha?

A modelagem é uma das linguagens da criança. Trata-se de uma forma de expressão relacionada à emoção, ao pensamento espacial, à postura de pesquisa, ao planejamento de ações, entre outras coisas que fundamentam processos cognitivos, corporais e criativos.

Desde muito pequenas, as crianças demonstram o prazer de amassar, de sentir texturas como a maciez daquilo que passa por entre seus dedos, de esfarelar para criar “chuvas e farinhas imaginárias”, denotando a significância das experiências sensoriais nessa fase.

Sendo a infância um período inaugural, de descobertas e primeiras vivências, a escola deve promover experiências que possibilitem observações, manipulações e investigações com materiais diversos.

   

A argila é uma matéria viva, robusta, que tem cheiro, textura, porosidade, temperatura, plasticidade e que possibilita, assim, uma riqueza de experiências sensoriais e evoca pesquisas relacionadas  aos seus estados físicos (líquido e sólido), densidade espacial, gravidade e peso. O material permite a criação de estratégias para que se atinja o resultado esperado e o desenvolvimento do senso estético, em um trabalho que envolve arte e ciência ao mesmo tempo.

O corpo, quando encontra o material, acorda todos sentidos: as mãos parecem ter boca, nariz e olhos, ao mesmo tempo que passam a ser ferramentas – por vezes, pinça; outras, escavadeiras ou carimbos que deixam marcas. A interação desenvolve e promove aprendizagem.

O trabalho com argila permite o planejamento de um projeto que não precisa terminar no mesmo dia e, assim, aproxima as crianças de contextos de continuidade. É algo que vai muito além do amassar e dos processos motores e cognitivos citados acima. O uso desse material desenvolve paciência, persistência, enfrentamento para não desistir e começar tudo de novo quando algo não dá certo. Educa para a vida!

Argila, sendo natural, não é estática e é imperfeita, e aí está outra grande beleza: ela racha e quebra, mas, dos pedacinhos que sobram desse imprevisto, surgem outras possibilidades. Pedacinhos de argila quebrada podem virar pedrinhas para brincar, desenhar ou riscar “amarelinhas” no chão. Se estivermos dispostos a novas alquimias, podemos ralá-los e misturá-los com água, e teremos tinta ou barbotina, que servirá para colar outras peças produzidas.

A nossa escola, por entender a potência do trabalho com a argila e sua organicidade, atribui um lugar menor à massinha. Suas possibilidades são reduzidas frente às vivências sensoriais proporcionadas pela argila. Ademais, a massinha é um material a que naturalmente as crianças terão acesso com maior frequência nos ambientes extraescolares.

Nosso olhar está em criar contextos de aprendizagens por meio de materialidades potentes, promovendo experiências diversas, que favoreçam pesquisa, inventividade e conexão com o natural, a fim de garantir o direito de as crianças viverem uma infância de aprendizagens com cheiro de chuva, de terra e de vida.

“O amassamento do brincar é também uma lição de refinamentos perceptivos, trabalho do sistema neurossensório e suas implicações éticas… Os dedos que aprendem a delicadeza do brinquedo mole esculpem nas almas as primeiras lições de persuasão, o modo de fazer sem força, com gentileza, num acordo suave com o mundo. A solução dos problemas com corporeidade nada invasiva e combatente.” Piorski

Referências bibliográficas:

BRASIL. Ministério da Educação. Base Nacional Comum Curricular. Brasília, 2018.
-PIORSK, Gandhy. Brinquedos do chão: A Natureza, o Imaginário e o Brincar. São Paulo: Peirópolis, 2016.
-LOUV, Richard. A última criança na natureza: resgatando nossas crianças do transtorno do déficit de natureza. São Paulo: Aquariana, 2016.
-HOLM, Anna Marie. Eco-Arte com crianças. São Paulo: E-Galáxia, 2017.

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